25 agosto 2007

Hão-de vir...

Evangelho segundo S. Lucas 13,22-30. Jesus percorria cidades e aldeias, ensinando e caminhando para Jerusalém. Disse-lhe alguém: «Senhor, são poucos os que se salvam?» Ele respondeu-lhes: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque Eu vos digo que muitos tentarão entrar sem o conseguir. Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora e batereis, dizendo: 'Abre-nos, Senhor!' Mas ele há-de responder-vos: 'Não sei de onde sois.' Começareis, então, a dizer: 'Comemos e bebemos contigo e Tu ensinaste nas nossas praças.' Responder-vos-á: 'Repito vos que não sei de onde sois. Apartai-vos de mim, todos os que praticais a iniquidade.' Lá haverá pranto e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac, Jacob e todos os profetas no Reino de Deus, e vós a serdes postos fora. Hão-de vir do Oriente, do Ocidente, do Norte e do Sul, sentar-se à mesa no Reino de Deus. E há últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos.»



A porta estreita...muito há que desbastar para cabermos na porta estreita...tanta arrogância,tantas certezas nas nossas verdades,nos nossos critérios,tanta arrogância sobre a propriedade de Deus,tanto desprezo pelos que não falam a mesma lingua,não partilham da mesma cultura,têm hábitos e vivências diferentes.

Um novo Israel formou-se com as mesmas caracteristicas do antigo.Um Ocidente ,dito cristão,borbulhante de poder,ávido de prestígio e de conquista,com arremedos vagamente caritativos,mas usando e explorando os mais pobres e desvalidos.

Assim,hão-de vir do Norte e do Sul e do Ocidente e do Oriente ,quem não conhecemos,quem não esperamos,para se sentar à mesa do Reino...os de coração disponível e humilde...doce e fraterno...dando-se por nada...absolutamente gratuitos e despojados.

O Senhor mostra os convidados para as núpcias do Cordeiro:


34. Então o Rei dirá aos que estão à direita: - Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo,35. porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes;36. nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim.37. Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber?38. Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos?39. Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar?40. Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes.Mat 25

19 agosto 2007

Uma paz de fogo...


Evangelho segundo S. Lucas 12,49-53.

«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!
Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize!
Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão.
Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra.»

Somos um povo de sacerdotes,profetas e reis....o baptismo trouxe-nos essa certeza,envolvida em angústia .

Porque vivê-lo num mundo de acomodações,de aparências,de cosméticas enganadoras,de caminhos de sucesso que se fazem empilhando cadáveres,destruindo quem está a frente não se faz sem que a nossa humanidade sofra com o embate que a radicalidade e a exigência do Evangelho nos confronta.



No fogo do Espírito consumimos as nossas iras,os nossos impulsos incontrolados,as nossas vaidades,o nosso orgulho ferido,as nossas idéias de fazer porque toda a gente faz,porque não podemos ser ingénuos,porque temos que usar os mesmos métodos,as mesmas armas que todos usam e isso mesmo que doa,mesmo que tenhamos que arrancar um olho das nossas certezas ou cortar um braço da nossa intransigência.


Mas quando o conseguimos a paz ,aquela paz que Jesus dá,diferente da do mundo,vai deixando a nossa alma,a nossa carne ,o nosso espírito espraiar-se numa serenidade e doçura, que excede todo o entendimento...

14 agosto 2007

Elegia a Maria,mulher e mãe na sua assunção

Virgem Pelagonitissa

Não são as estrelas que te coroam,a tua concepção sem pecado ou o teres sido assunta ao céu em corpo e alma,condições inerentes à condição de mãe de Cristo,que me encantam e dão alento,mas sim ,como relatam os Evangelhos,a tua vida de criatura,como nós,caminhando cheia de perguntas e perplexidades,que não compreendendo, guardavas no coração,alimentada sòmente pela fé,sem revelações ou auxilios especiais.



Sim,Maria ,foram horas penosas e iguais às de tantas mães,as que passaste quando jovem grávida percorreste mais de cem km ,não sabendo o lugar ou as condições em que iria nascer o Menino,ou quando refugiada politica procuraste a terra do Egipto,sem saber quando e se podias regressar a casa ou ainda na angustia dos dias de Jerusalém ,procurando o Filho desaparecido ,com todas as interrogações se ainda o irias encontrar,se lhe teriam feito mal.


Vida normal e igual na rotina diária de trinta anos sem acontecimentos,que fizessem adivinhar as promessas constantes da lei,para finalizar na interrogativa,dolorosa e cruel morte de cruz do teu Filho a que assististe quase sòzinha e em que foste investida da missão a que estavas destinada,nos séculos futuros,a de mãe da humanidade.

E se não são férteis os Evangelhos a mostrar-nos os teus passos de peregrina humana são suficientes os exemplos que nos ficaram da tua disponibilidade desde o faça-se inicial até o auxilio prestado aos outros,atravessando montanhas,em condições dificeis , para ajudar a prima Isabel ou preocupando-se até pela humilhação do dono da casa nas bodas de Caná, tentando discretamente resolver a sua aflição ou ainda quando fortalecias os apóstolos nas suas jornadas no Pentecostes da Igreja,frente a um meio hostil.


Por toda a tua vida ,obrigada,Mãe,nosso consolo,nossa ajuda e nossa alegria na peregrinação desta vida,em direcção ao único Senhor e Redentor.


12 agosto 2007

Não temais,pequenino rebanho...


Evangelho segundo S. Lucas 12,32-48.

Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino.» «Vendei os vossos bens e dai os de esmola. Arranjai bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável no Céu, onde o ladrão não chega e a traça não rói. Porque, onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.» «Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles. Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.» Pedro disse-lhe: «Senhor, é para nós que dizes essa parábola, ou é para todos igualmente?» O Senhor respondeu: «Quem será, pois, o administrador fiel e prudente a quem o senhor pôs à frente do seu pessoal para lhe dar, a seu tempo, a ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, quando vier, encontrar procedendo assim. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas, se aquele administrador disser consigo mesmo: 'O meu senhor tarda em vir' e começar a espancar servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que ele menos espera e a uma hora que ele não sabe; então, pô-lo-á de parte, fazendo o partilhar da sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido.


Não temas...o Pai dá-vos o Reino...


Aceitando o desafio para superar os limites do nosso peso humano ,do fechamento nas nossas casas,nas nossas mentes,nos nossos corações,nos nossos bens,no nosso autoculto,na nossa auto-comiseração,na nossa separação entre aqueles a quem damos a nossa consideração e aqueles a quem deixamos ficar de lado,porque nos aborrecem,porque já não são mais interessantes...



Não temas,o Pai dá-nos o Reino...


Atentos aos sinais que Deus nos coloca continuamente,sempre vigilantes na Fé,na Sua intimidade pela oração,no Amor mais ainda dos que nos não são simpáticos,amáveis,concordantes.



Não temas,pequeno rebanho,porque o Pai dá-vos o Reino...


Quer sejamos muitos ou poucos sempre na humildade,na aceitação dos outros,na escuridão da Fé,na obstinação da esperança,para que de cintos apertados e lâmpadas acesas esperemos o Filho do Homem,o nosso Amado, e que seja na alegria do véu finalmente descerrado.
AMEN...AMEN...AMEN

08 agosto 2007

A ESTRANGEIRA


Mas a mulher veio prostrar-se diante dele, dizendo: «Socorre-me, Senhor

Ele respondeu-lhe: «Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.»
Retorquiu ela: «É verdade, Senhor, mas até os cachorros comem as migalhas que caem da mesa de seus donos.»

Então, Jesus respondeu-lhe: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.»

E, a partir desse instante, a filha dela achou-se curada.

Jesus cede à fé do estrangeiro,uma vez mais.

Onde estão as fronteiras que nos querem impor para que a salvação esteja condicionada?

05 agosto 2007

a minha colheita


Evangelho segundo S. Lucas 12,13-21. Dentre a multidão, alguém lhe disse: «Mestre, diz a meu irmão que reparta a herança comigo.» Ele respondeu-lhe: «Homem, quem me nomeou juiz ou encarregado das vossas partilhas?» E prosseguiu: «Olhai, guardai-vos de toda a ganância, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens.» Disse-lhes, então, esta parábola: «Havia um homem rico, a quem as terras deram uma grande colheita. E pôs-se a discorrer, dizendo consigo: 'Que hei-de fazer, uma vez que não tenho onde guardar a minha colheita?' Depois continuou: 'Já sei o que vou fazer: deito abaixo os meus celeiros, construo uns maiores e guardarei lá o meu trigo e todos os meus bens. Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.' Deus, porém, disse-lhe: 'Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?' Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus.»

Encher,produzir,aumentar,competir,até que não se respire,se enfarte,se queime por excesso,se mate por fome,se semeie em discórdia,se odeie em desentendimentos,se estiole em ganâncias,se desfaça em cobiças.
Senhor, fazei que a minha colheita seja da que apenas cabe nos teus espaços da que me traz a plenitude desde já e para sempre!